sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Minha fragrância

Os meus frangalhos dançam conforme a música do vento que os leva, os conduz, e minha fragrância flutua por aí, perdida entre os ares, nos pulmões alheios, desejando fazer-se perfume.
É que eu me enchi de tanta saudade e nostalgia que explodi, transbordei, e agora sirvo de caco nessa construção de espelhos que só refletem o físico dos homens e ignoram, insanavelmente, o caráter. Fotos, papéis, memórias e sonhos não me deixam em paz, não param de lembrar-me que eu odeio as aparências porque sei que há muito além do que os olhos veem. Por isso lancei meu punho fechado contra todos os espelhos da minha casa, e agora devo ter uns setenta anos de azar pela frente. Mas tudo bem. Esses resquícios que sobraram de mim e não se misturaram a areia da praia devem servir para um novo começo, e com essa mão calejada prometo escrever uma linda história para mim. Cortei nossos laços de dependência e destruí minhas estúpidas ilusões; agora é cada um por si, amor. Mas não se preocupem. Esses sulcos que vivem na minha face se rejuvenescerão num piscar de olhos, e a minha essência se fará fragrância aprisionada em vidros anti-reflexos; de visões retorcidas já estou cansada. Fizemos uma troca: eu dei-lhes meu amor enquanto vocês concedeu-me um punhado ingrato de decepções. E agora, antes que eu me esqueça, devo alertar: um dia, quando vocês estiverem me esquecendo, alguém passará ao seu lado vestindo meu perfume e lhe fará lembrar de mim...

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